sexta-feira, 12 de junho de 2009

Saúde & Educação Sexual


Projeto Orientação Sexual nas Escolas


A sexualidade humana compreende aspectos diversificados e complexos, uma vez que norteia nossa relação com o nosso corpo, afetos, relacionamentos, mitos, reprodução e DSTs. A formação da identidade sexual se dá em níveis biológicos, psicológicos (tomada de consciência) e nível social (aprendizagem dos papéis sexuais).

Falar de sexualidade significa também falar de repressão, poder, preconceito, interdição do corpo, desejo, paixão, prazer, vida, morte, controle, gênero, pecado, opção sexual, construção de papéis sexuais, doenças sexualmente transmissíveis; enfim, de todas as representações sociais que giram em torno dela na sociedade. Estas questões não estão fora do espaço escolar.

Há várias hipóteses para tentar compreender o porquê dos tabus. Uma delas é que apesar de todo o estímulo e informação disponíveis à criança, muitas famílias ainda sentem constrangidas ao falar sobre sexo e sexualidade com seus filhos e filhas, por associarem esse tema à idéia de pecado. Outros temem que, ao falar de sexo, estarão estimulando precocemente a criança, aguçando sua curiosidade e permitindo que tal conhecimento possa levá-las à prática.

Na tentativa de preservarem a “inocência” infantil, os adultos recorrem as explicações mágicas, colocando ainda fantasia no pensamento da criança. Segundo Britzman (1998), no entanto, é preciso considerar que ela elabora suas próprias teorias a respeito de sexo e sexualidade sem autorização dos adultos apesar dos empecilhos colocados pela cultura.

Assim, segundo Foucauld (1997, p.97): “não se deve conceber a sexualidade como uma espécie de dado da natureza que o poder é tentado a pôr em xeque, ou como um domínio obscuro que o saber tentaria, pouco a pouco, desvelar. A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não a uma realidade subterrânea que se apreende com dificuldade, mas à grande rede da superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, à formação do conhecimento, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e de poder”.

Realizar um trabalho de orientação sexual em uma escola possibilita aos alunos informações e reflexões a cerca de todos os aspectos que envolvem a sexualidade. A informação pode ser a mesma para todos, mas a reflexão é individual, levando cada pessoa a formar posturas personalizadas. Penso ser o termo “orientação” mais adequado, do que anteriormente se intitulava “educação sexual”, uma vez que este trabalho não se propõe a educar, mas direcionar a análise e compreensão dos alunos a cerca de todos os aspectos referentes a sexualidade. A educação virá da família, seja ela repressora, liberal ou ausente.

Deste modo, a escola hoje, não tem função apenas de ensinar, mas de formar cidadãos conscientes do seu papel na sociedade, tornando-se capazes de enxergar a realidade e discernir sobre como agir. Na realidade, a construção da sexualidade é um processo extremamente complexo, concomitantemente individual social, psíquico e cultural, que possui historicidade, envolve práticas, atitudes e simbolizações. Faz-se necessário não só trabalhar com crianças e adolescentes os processos cognitivos, mas todos os aspectos relacionados com a afetividade, com a formação da cidadania, com a ética, com a sexualidade. Deste modo, este projeto propôs ser mais um instrumento de discussão e esclarecimentos de dúvidas a cerca da sexualidade humana. O projeto foi executado na Fase II e IV do ensino Fundamental da Escola Municipal Erinea Inácia Maria de Carvalho Silva, na cidade de Itutinga – MG, respeitando as faixas etárias e grau de compreensão dos alunos. Para isto utilizaram-se recursos de apresentação em PowerPoint, facilitando a visualização das figuras, elaboração de desenhos que resumissem a compreensão dos temas abordados, caixa de perguntas para os alunos exporem suas dúvidas, cartazes resumindo o conhecimento à cerca do projeto que participaram; fotos com a exposição de todos os desenhos, cartazes, materiais didáticos utilizados junto aos alunos e professoras. Especificamente os objetivos foram: informar o projeto aos alunos; apresentar e adequar o projeto (caso necessário) dividido em cinco tópicos: visão geral da sexualidade, anatomia sexual masculina e feminina, reprodução, parto, métodos anticoncepcionais e DSTs através de apresentação em PowerPoint; solicitar aos alunos, após cada tópico, a realização de desenhos a cerca do que compreendeu;- esclarecer dúvidas feitas oralmente ou escritas (através da caixa de dúvidas); realizar ao final do projeto uma exposição dos desenhos referentes a cada tema discutido e um cartaz confeccionado coletivamente resumindo o entendimento do projeto.

O projeto teve um total de oito encontros (um por semana), com duração de uma hora cada. Foram utilizados recursos materiais como: sala de cinema da escola, CD-ROM para apresentação em PowerPoint, folhas de papel sulfite para os desenhos e também para a elaboração das perguntas, lápis (preto, de cor), borracha, cartolinas, revistas usadas, cola e fita crepe, máquina fotográfica, revistas e livros sobre os temas, painéis, caixa de perguntas, material didático (métodos contraceptivos). Ao final desse projeto percebeu-se a importância da execução deste trabalho, uma vez que os alunos denotaram pouco ou nenhum conhecimento sobre a sexualidade, constatado não só pelas perguntadas formuladas (oral e escrita), mas pelas expressões de espanto e assombro de diversos temas discutidos e expostos. Como exemplo, cita-se o desconhecimento e/ou conhecimento ínfimo sobre os órgãos sexuais e reprodutores masculino e feminino (anatomia, função, características).

Outro aspecto muito relevante, averiguado durante este trabalho, foi o pouco conhecimento das docentes a respeito dos temas, relatando a importância deste trabalho com os seus alunos, uma vez que se sentiam inibidas, constrangidas e pouco capacitadas para abordá-lo em sala de aula. Entretanto percebe-se que as pessoas, de um modo geral, independente de serem educadores ou não, são ensinados, desde o nascimento, ao completo desconhecimento da sexualidade humana, quer seja ela vista na infância, na adolescência, na fase adulta ou na terceira idade.

Para Souza (1999, p. 25), é uma questão de bom senso que a escola deva se preparar para tratar de forma adequada às questões relacionadas com a sexualidade dos alunos, pois, apesar da grande onda de liberação sexual nas últimas décadas, com o tratamento público de questões anteriormente escondidas pela sociedade, ainda há muitas polêmicas sobre a necessidade, com a sexualidade de criança e adolescente no ambiente escolar.

Deste modo, a autora constatou a importância deste projeto e a necessidade de dar continuidade a ele, uma vez que a temática não se encerra, mas é algo a ser constantemente analisado, discutido e exposto. Cabe assim, a escola, estar aberta a profissionais capacitados, a fim de contribuir na construção desse tema.



Referenciais:

- BELFORT, Paulo; BRAGA. Antonio. Sexualidade, Desafios, Perspectivas e Limitações. Jornal Brasileiro de Medicina. n.º 2. vol. 80. 2001.
-BRITZMAN, Deborah P. O que é esta coisa chamada amor? Identidade homossexual, orientação e currículo. Orientação & Realidade, Porto Alegre, n. 21(1), p.71-96, jan. /jun.
- FOUCAULT, Michel. A história da sexualidade 1: a vontade de saber. 12. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1997.
- SOUZA, Hamilton de. Questão de Bom Senso. Revista Educação (SIEE ESP). 1999, p. 25.
- VITIELLO, Nelson. Um breve histórico do estudo da sexualidade Humana. Revista Brasileira de Medicina. vol. 55.1998.

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Acadêmico:
Jessié Martins Gutierres

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